Ao longo das últimas décadas, a investigação em Psicologia Clínica e da Saúde tem permitido avanços significativos no tratamento das perturbações emocionais. Apesar da eficácia de múltiplos protocolos específicos, tornou-se evidente que estas perturbações partilham vulnerabilidades psicológicas e processos emocionais comuns, como o neuroticismo, as dificuldades na regulação emocional e a tendência para o evitamento experiencial.
O Protocolo Unificado (PU) surge como uma abordagem cognitivo-comportamental transdiagnóstica, desenvolvida por David Barlow e colaboradores (Boston, EUA), que visa intervir sobre estes mecanismos nucleares, promovendo a consciência e aceitação das emoções, a flexibilidade cognitiva e a exposição a experiências emocionais desconfortáveis de modo adaptativo.
A sua eficácia tem sido amplamente demonstrada em diferentes perturbações emocionais e contextos clínicos, apresentando-se como uma ferramenta terapêutica abrangente e baseada na evidência científica.
O PU encontra-se sustentado por um vasto corpo de investigação experimental e clínica, que têm demonstrado reduções significativas nos sintomas de ansiedade e depressão, melhorias mensuráveis na capacidade de regulação emocional adaptativa e no neuroticismo.
Os resultados mostram que o PU é tão eficaz quanto os protocolos específicos para cada perturbação, e apresenta maior aplicabilidade em contextos clínicos comorbidos. Além disso, tem revelado bons resultados em ambos os formatos individual e de grupo, e em diversas populações.
As perturbações emocionais frequentemente coocorrem e partilham processos de manutenção semelhantes. Em vez de múltiplos protocolos terapêuticos centrados em sintomas e dificuldades específicas, o PU propõe uma estratégia unificada que aborda os mecanismos e processos emocionais transversais a estas condições.
Para o clínico, esta abordagem representa maior eficiência na formação e aplicação, e para o utente, intervenções mais completas, que atendem à complexidade da sua experiência emocional.
Tal como numa casa real, também no PU as pessoas vão percorrendo , com a ajuda do psicólogo, diferentes divisões, cada uma associada a um módulo e a uma competência emocional fundamental. Em cada divisão vão aprendendo a abrir janelas, circular por novos espaços e reorganizar elementos que antes pareciam caóticos ou desconfortáveis. E, à medida que atravessam estes espaços, a casa torna-se mais habitável, mais coerente e mais sua. A metáfora da casa ajuda a traduzir, de forma intuitiva, o movimento terapêutico que o PU promove: a construção de um interior emocional mais flexível, seguro e capaz de acolher a experiência humana em toda a sua complexidade.
Cada módulo ensina algo essencial para esta construção aos pacientes, desde compreender e aceitar as emoções, a escolher ações alinhadas com os seus objetivos, até enfrentar aquilo que temem, entre outros. No final do percurso, a pessoa não só conhece melhor cada divisão da sua casa, como desenvolve maior capacidade para circular entre as divisões, abrir portas antes fechadas e criar novas formas de viver no seu espaço interno. A intervenção deixa assim de ser apenas um conjunto de técnicas e torna-se uma forma de habitar a vida emocional com maior liberdade e autenticidade.
Esta metáfora acompanha também os manuais do PU-Adultos, que incorporam visualmente a casa como estrutura organizadora da aprendizagem, permitindo que cada módulo seja não apenas compreendido, mas experienciado e integrado.
Ilustração da casa presente nos manuais portugueses do PU-Adultos; ilustração de Luísa Beato